Muitas pessoas encontram problemas na hora de engravidar. Cerca de 15% dos casais que planejam engravidar não obtêm resultados positivos em um tempo médio de um ano de relações sexuais frequentes e desprotegidas. E a infertilidade masculina participa em até 50% desses casos, seja como fator único ou em associação com um fator feminino.
Várias condições podem levar à infertilidade masculina, pode haver por exemplo, desequilíbrios hormonais, obstrução do trato reprodutivo ou prejuízo direto ao testículo ou aos espermatozoides. Dessa forma, é muito importante destacar que nos casos de dificuldade para engravidar tanto a mulher quanto o homem devem ser avaliados para tentar identificar a causa do problema, e para que seja realizado o tratamento adequado e com os melhores resultados.
Portanto, esse artigo vai te ajudar a entender mais sobre a infertilidade masculina ou fatores masculinos de infertilidade. E ainda temos este outro artigo sobre infertilidade feminina. Não deixe de conferir também!
Como funciona o Sistema Reprodutor Masculino?
Para entender melhor a respeito das causas de infertilidade masculina e os tratamentos, conhecer um pouco sobre o sistema reprodutor masculino poderá ajudar. A concepção natural é um processo que envolve uma série de fatores que precisam acontecer simultaneamente. No homem, para o adequado funcionamento desse sistema, é necessário: uma satisfatória produção de hormônios, testículos e canais transportadores de espermatozoides funcionando normalmente.
O homem deverá estar produzindo um número adequado de gametas normais, sêmen com qualidade, com movimentação adequada dentro do aparelho feminino, para que o espermatozoide consiga fertilizar o óvulo e contribuir para a formação de um embrião viável.
Pode haver infertilidade masculina se algum fator ocasionar alteração na quantidade de espermatozoides, na sua capacidade de movimentar (motilidade), na sua forma (morfologia) ou no seu funcionamento adequado.
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Causas de infertilidade no homem – fatores masculinos.
Com tantas possibilidades diferentes que causam a infertilidade no homem, de forma geral, podemos dividir em alguns grandes grupos, a saber:
- Distúrbios hormonais;
- Prejuízo direto aos testículos ou aos espermatozoides;
- Obstrução do trato reprodutivo;
Em cerca de metade dos casos, mesmo após vários tipos de exames, não é possível identificar as causas de infertilidade no homem.
Distúrbios Hormonais
Os distúrbios hormonais não são as causas mais comuns, sendo responsáveis por apenas 1 a 2 % dos casos de infertilidade masculina.
O equilíbrio hormonal é imprescindível para a função reprodutiva, já que a produção de espermatozoides depende da síntese de testosterona pelos testículos e, consequentemente, de eixo hipotálamo- hipófise- testículo funcionando normalmente. Assim, esses distúrbios estão ligados a problemas encontrados no hipotálamo ou na hipófise, estruturas do sistema nervoso central, responsáveis pela produção e secreção de hormônios.
Segue alguns exemplos de problemas que podem levar a esse desequilíbrio hormonal, conhecido como hipogonadismo hipogonadotrófico:
- Tumores ou doenças na hipófise ou hipotálamo;
- Uso de medicações, como corticoides, alguns antirretrovirais, espironolactona, analgésicos opioides.
- Uso de anabolizantes;
- Obesidade;
- Síndrome de Kallmann;
- Dentre outros.
Prejuízo direto aos testículos ou aos espermatozoides
Os fatores de infertilidade masculina que resultam em prejuízo direto ao testículo ou aos espermatozoides, são as causas mais comuns de infertilidade masculina, como por exemplo:
- Varicocele: é considerada a principal causa tratável de infertilidade masculina, ocorrendo em aproximadamente 30% dos homens com infertilidade. É caracterizada pela dilatação anormal das veias na região escrotal, podendo haver um aumento da temperatura testicular e acúmulo de substâncias nocivas, gerando uma série de efeitos prejudiciais denominado estresse oxidativo. Isso pode acarretar dano direto aos espermatozoides;
- Criptorquidia: é uma alteração genital, em que os testículos não descem corretamente da cavidade abdominal para a região escrotal. Assim, a temperatura abdominal mais alta é um dos fatores que pode prejudicar os testículos e a capacidade de produzir espermatozoides em quantidade e qualidade suficientes;
- Alterações genéticas, como por exemplo a Microdelação do cromossomo Y e a Síndrome de Klinefelter, podem levar a diminuição acentuada ou ausência de espermatozoides no ejaculado, sendo também importantes causas de infertilidade;
- Diversos estudos correlacionam o uso de maconha, tabagismo e consumo de álcool com piora da qualidade seminal. Os mecanismos que levam a essas alterações não são bem elucidadas, mas parece ter um efeito diretamente proporcional à quantidade e ao tempo de consumo dessas drogas;
- Processos infecciosos e inflamatórios, podem comprometer a função testicular, com diminuição da quantidade e motilidade de espermatozoides: caxumba, clamídia, gonorreia por exemplo;
A falência testicular primária, ou seja, do próprio testículo, é conhecida como hipergonadismo hipogonadotrófico, que causa diminuição importante ou ausência total de espermatozoides na ejaculação.
Obstrução do trato reprodutivo;
Algumas vezes o problema não está na produção de espermatozoides, mas sim no caminho até a ejaculação, ou seja, há uma obstrução em algum ponto (epidídimos, canais deferentes ou ductos ejaculadores) impedindo a saída do sêmen, como:
- Vasectomia é uma cirurgia que interrompe o transporte dos espermatozoides do epidídimo para os canais deferentes que terminam na uretra, ou seja, impede a passagem dos espermatozoides para o líquido ejaculado, causando a infertilidade. Essa é a causa tratável mais comum de obstruções do trato reprodutivo masculino;
- Agenesia congênita bilateral dos canais deferentes: Acomete cerca de 1 a 2% dos homens inférteis, sendo caracterizada pela ausência dos ductos deferentes desde o nascimento. É causada por uma mutação no gene da fibrose cística (CFTR). Cerca de 80% desses homens com ausência dos deferentes são portadores de mutação no gene CFTR e nenhum outro sinal ou sintoma;
- Processos infecciosos ou cirurgias como herniorrafia, especialmente com uso de tela, podem levar a obstrução do ducto deferente que, se bilateral, poderá causar ausência de espermatozoides no ejaculado;
- Distúrbios ejaculatórios: Diabetes mellitus, esclerose múltipla e trauma raquimedular são exemplos de situações que podem levar a esses distúrbios ejaculatórios;
Como diagnosticar a infertilidade masculina (exames)
A avaliação da infertilidade masculina tem o objetivo de diagnosticar causas tratáveis, possíveis doenças associadas, já que a infertilidade pode ser sinal de outras doenças, aconselhamento genético quando necessário e definição do tratamento.
Deve- se procurar ajuda médica especializada para investigação após 1 ano de relações frequentes e desprotegidas sem sucesso ou após 6 meses se a mulher tiver idade maior ou igual a 35 anos, ou ainda imediata se houver fatores de risco para infertilidade masculina, como criptorquidia, câncer, dentre outros.
O casal com infertilidade deve ser avaliado em conjunto, devendo ser coletado história médica e reprodutiva completa e realização de exame físico. Na avaliação masculina a análise seminal, com o espermograma, deve ser a primeira fonte de informação, pois irá fornecer dados sobre a produção de espermatozoides e a permeabilidade do trato reprodutivo. E todo espermograma alterado deverá ser repetido para confirmação.
Espermograma – Valores de referência para análise seminal
PARÂMETRO | VALORES NORMAIS |
Volume (mL) | ≥ 1,5 |
Concentração (x106/mL) | ≥ 15 |
N° total de espermatozoides (x106 por ejaculado) | ≥ 39% |
Motilidade (a+b) | ≥ 32% |
Motilidade (a+b+c) | ≥ 40% |
Vitalidade | ≥ 58% |
Morfologia (Kruger) | ≥ 4% |
Leucócitos (x106/mL) | < 1,0 |
Manual da OMS para análise seminal, 5° edição, 2010
Após essa avaliação inicial, o médico orientará se há necessidade de realizar outros exames ou não, como por exemplo:
- Avaliação hormonal: indicada quando houver alteração seminal, principalmente na concentração de espermatozoides. Pode ser realizado inicialmente dosagem de FSH, LH, testosterona, estradiol, e a depender da avaliação médica, solicitar também prolactina, TSH e T4 livre;
- Ultrassonografia escrotal: realizar se suspeita de tumor de testículo, se detectado alteração no exame físico, na dúvida quanto a recidiva da varicocele após tratamento prévio, quando não for possível adequado exame físico e para pacientes com ausência de espermatozoides no ejaculado (azoospermia) ou menos de 5 milhões de espermatozoides por mL de sêmen (oligospermia grave) para avaliar possíveis nódulos testiculares.
- Análise genética: é necessária para homens com oligospermia grave e principalmente se azoospermia. Nesses casos são realizados o cariótipo com banda G e pesquisa de Microdeleção do cromossomo Y. E se suspeita clínica de agenesia bilateral dos dutos deferentes, deve ser realizada pelo homem e sua parceira, uma pesquisa da mutação do gene da fibrose cística.
- Teste de fragmentação de DNA Espermático: Não deve ser realizado de rotina, podendo ser solicitado em situações especiais como em casos de abortos de repetição, falhas de implantação em tratamentos de Fertilização in vitro (FIV).
Tratamentos para Infertilidade Masculina
De acordo com a análise de cada caso, será indicado e orientado ao casal sobre o tratamento mais adequado. Entretanto, alguns cuidados com a saúde são importantes para todos os homens e também para as mulheres, como hábitos saudáveis de alimentação, exercícios físicos regulares e sem o consumo de drogas.
Se for identificada uma infecção, por exemplo, poderá ser tratada com o uso de antibióticos. Para homens com problemas hormonais existem alguns tratamentos, que podem apresentar resultados satisfatórios. Casais com anormalidade genética podem realizar aconselhamento genético quando necessário.
A correção cirúrgica da varicocele clínica (palpável ao exame físico) quando há alteração comprovada na análise seminal é indicada, e pode proporcionar ao casal infértil por fator masculino uma chance de reprodução natural ou uma maior chance de sucesso no tratamento de reprodução assistida indicado. Em casos em que a reserva ovariana da mulher é preocupante, a decisão do procedimento deve ser individualizado.
Além disso, as técnicas de reprodução assistida como a inseminação artificial, fertilização in vitro (FIV) e a Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI), são possibilidades seguras e eficazes para que o homem realize o sonho de ser pai, junto a sua parceira.
Em caso de diagnóstico de azoospermia (ausência de espermatozoides no sêmen ejaculado), poderá ser indicado técnicas de reprodução assistida para obter os espermatozoides, de acordo com a avaliação de cada caso, são elas:
- Aspiração Percutânea de Espermatozoide do Epididímo (PESA);
- Aspiração Microcirúrgica de Espermatozoide do Epidídimo (MESA);
- Aspiração Percutânea de Espermatozoides do Testículo (TESA);
- Extração de Espermatozoides do Testículo (TESE).
Caso você e seu parceiro estejam enfrentando dificuldades para engravidar, agende uma consulta para avaliação. Com o diagnóstico correto e os tratamentos adequados, vocês terão muito mais chances de realizar este sonho!