
A constituição de uma família é considerado como um direito humano fundamental. A impossibilidade de engravidar, ou a infertilidade, muitas vezes, interrompe o casal em um momento em que eles sem sentiam preparados para viver a experiência da maternidade e paternidade. E isso pode gerar grande sofrimento para o casal.
O nascimento do primeiro bebê obtido por meio da aplicação da técnica de Fertilização in vitro (FIV) em 1978, na Inglaterra, foi um marco que trouxe esperança a inúmeros casais inférteis. E estudos mostram que desde esse acontecimento mais de 8 milhões de bebês nasceram em todo o mundo com a ajuda das Técnicas de Reprodução Assistida.
A FIV é o procedimento que tem o objetivo de superar a infertilidade e alcançar a gravidez com o manuseio de gametas femininos e masculinos em laboratório, ocorrendo a fertilização dos óvulos pelos espermatozoides, com formação de embriões, que são posteriormente transferidos para o útero da futura mamãe. Essa é uma das técnicas de reprodução assistida mais usadas para tratamento de casais com dificuldade de engravidar.
Esse artigo foi preparado para você entender o que é, como funciona a Fertilização in vitro (FIV), para quais casos este tratamento é o mais indicado e para tirar as dúvidas mais frequentes relacionados a FIV.
O que é a Fertilização in vitro e para quem é indicada?
FIV é uma das técnicas de reprodução humana mais utilizadas, não só no Brasil, como no mundo inteiro. Isso por que, atualmente, é a opção de tratamento para engravidar que oferece mais chances de sucesso em diversos casos distintos.
Com esse procedimento, os óvulos são captados dos ovários, levados ao laboratório, onde são fertilizados pelos espermatozoides do parceiro, com a formação dos chamados pré-embriões ou embriões, que são mantidos no laboratório por um período de cultivo, para posteriormente serem transferidos para o útero da mulher.
Um ciclo de FIV ocorre em um intervalo de 2 a 3 semanas e inclui as seguintes etapas, que serão posteriormente detalhadas:
- Indução da ovulação e aspiração folicular;
- Preparo do sêmen;
- Fertilização: FIV clássica ou ICSI (inseminação dos óvulos);
- Cultivo e transferência embrionária.
Entre as principais indicações para a aplicação da técnica de fertilização in vitro clássica estão:
- Fator tubário (é a primeira opção nos casos de obstrução tubária completa);
- Fator masculino moderado/ grave;
- Endometriose moderada e grave;
- Fator uterino em que não é possível a correção cirúrgica (pode ser indicado útero de substituição);
- Baixa reserva ovariana;
- Insuficiência ou falência ovariana (nesse caso pode ser utilizado doação de óvulos);
- Após falha de tratamentos de baixa complexidade (inseminação artificial e/ou coito programado);
- Infertilidade sem causa aparente;
- Esterilização voluntária prévia: Laqueadura tubária, também chamada de ligadura de trompas.
Além do tratamento de infertilidade, as técnicas de reprodução assistida possibilitam:
- A autonomia reprodutiva a despeito da orientação sexual (fertilização in vitro com gametas doados);
- Na existência de câncer, criopreservação de gametas, com realização de FIV após o tratamento da doença e liberação pelo médico oncologista responsável;
- Em casos de anormalidade genética, com chance de passar essa anormalidade para o filho, pode- se realizar biópsia embrionária e transferir somente embriões saudáveis para o útero.
Etapas da Fertilização in vitro
Após realização de diagnóstico personalizado, com o conhecimento da história do casal, exame físico e os exames habituais solicitados em casos de infertilidade, será discutido com o casal as possibilidades do tratamento. Se for indicado a FIV, antes de iniciar um ciclo de tratamento, serão solicitadas sorologias para HIV, HTLV I e II, hepatites B e C, sífilis e Zika vírus.
No início do ciclo, antes de iniciar o tratamento (2° ou 3° dia do ciclo menstrual) é realizado ultrassom transvaginal para avaliar útero e ovários, com contagem dos folículos (O folículo ovariano consiste num oócito revestido, ou seja, os folículos são como pequenas bolsas que protegem e guardam os óvulos até a ovulação).
Estando tudo certo, iniciaremos os próximos passos:
1º. Para estimulação ovariana controlada / indução da ovulação, são utilizadas medicações hormonais por aproximadamente 9 a 12 dias, para estimular o crescimento e maturação do maior número de óvulos possível. E também serão administradas outras medicações para impedir a ovulação espontânea;
- Será realizado o acompanhamento com ultrassonografia transvaginal para monitorar o crescimento dos folículos e determinação do dia do procedimento de coleta dos óvulos; (obs.: poderá ser solicitado também dosagem de hormônios em amostra de sangue).
2º. Coleta dos óvulos por aspiração dos folículos ovarianos em procedimento guiado por ultrassom transvaginal, em centro cirúrgico e sob anestesia (sedação), ou seja, a paciente estará dormindo a partir da administração de uma medicação na veia. Esse procedimento dura cerca de 10 a 20 minutos e é realizado aproximadamente 36 horas depois da administração da última injeção de hormônio, que induz a maturação final do óvulo;
3º. A coleta de espermatozoides é feita no mesmo dia da coleta dos óvulos. Os espermatozoides são obtidos pela masturbação, na maioria das vezes. Nos casos de azoospermia (ausência de espermatozoides no ejaculado), os gametas masculinos podem ser obtidos por procedimentos como aspiração do epidídimo, biópsia do testículo (TESE), dentre outros;
4º. Fertilização: Após obter os óvulos maduros e preparar os espermatozoides, é realizado o processo de fertilização no laboratório. Podendo ser optado pela Fertilização in vitro convencional (FIV) ou pela ICSI:
-A FIV convencional consiste em colocar um óvulo na placa de cultivo com vários espermatozoides, para que o espermatozoide penetre no interior do óvulo espontaneamente;
-A ICSI é sofisticação da FIV convencional, sendo que nesta técnica, um espermatozoide é injetado dentro do óvulo com uso de micromanipuladores;
-Cultivo dos embriões: Observação diária do desenvolvimento dos embriões no cultivo em laboratório, que são classificados em relação aos parâmetros de desenvolvimento adequado à normalidade. Esses embriões obtidos são mantidos em cultura e durante esse período, alguns podem parar de se desenvolver devido a falhas espontâneas na divisão celular humana. E os melhores embriões são selecionados para transferência;
5º. Transferência dos melhores embriões para o útero, em geral após 3 a 5 dias do desenvolvimento. Os embriões são transferidos para o útero, em um procedimento que se parece com um exame ginecológico normal, e é utilizado um cateter, guiado por ultrassom. A transferência pode ser realizada no mesmo ciclo do estímulo ovariano (sendo chamada de transferência a fresco), ou em ciclo futuro, sendo necessário o congelamento dos embriões.
6º. Após a transferência embrionária, pode ser feito o congelamento dos demais embriões obtidos (excedentes) com boa qualidade. Assim, caso seja necessário um novo ciclo de tratamento futuro, não será preciso nova estimulação ovariana. Este procedimento também é útil nos casos de risco para Síndrome de Hiperestimulação Ovariana, endométrio inadequado, dentre outras situações.
- O teste de gravidez (βHCG quantitativo) é feito após cerca de 11 a 15 dias da transferência. Se o teste é positivo, repetiremos o exame em 48 horas, para avaliar se está aumentando normalmente;
- Em caso de sucesso do tratamento, será feito um exame de ultrassom com 6 semanas de gravidez para confirmar gestação clínica e o acompanhamento inicial da gravidez até alta da Reprodução Assistida para o Acompanhamento Pré- Natal.
Chances ou taxas de sucesso da FIV
As chances de sucesso por tentativa variam em torno de 55%, tendo como principal fator determinante a idade da paciente.
Segundo dados internacionais, apesar de a taxa de sucesso da FIV/ICSI ser inversamente proporcional a idade da paciente, nos últimos anos a proporção de mulheres com mais de 40 anos em busca de tratamento para infertilidade aumentou.
Tabela: Resultados de gestação e nascimento por transferência, de acordo com a idade feminina (adaptado de CDC 2015)

Disponível em https://www.cdc.gov/art/pdf/2015-report/ART-2015-National-Summary-Report.pdf
Quais são os riscos de uma FIV e como minimizá-los?
A aspiração folicular guiada por ultrassom é um procedimento essencial para a FIV, sendo utilizado em todo o mundo. É uma técnica simples, segura, mas como todo procedimento cirúrgico estão associados a algumas complicações, como por exemplo o sangramento vaginal pós- aspiração. A incidência dessa condição é pequena e na maioria das vezes é possível tratamento local para parar o sangramento.
A Síndrome de Hiperestimulação Ovariana (SHO) ocorre devido ao efeito indesejado do uso de estimuladores da função ovariana, e estima-se que ela afete cerca de 2 a 3% das pacientes nas suas formas moderadas e graves. Os sinais e sintomas variam de acordo com a gravidade da síndrome. Sintomas leves podem ocorrer em até 30% dos pacientes, como leve desconforto e distensão abdominal devido ao aumento no volume de um ou ambos os ovários.
No entanto, uma opção eficaz para prevenção das formas graves e moderadas da síndrome de hiperestimulação ovariana (SHO), com altas taxas de sucesso, consiste na criopreservação de todos os embriões, ou seja, congelar todos os embriões e transferi-los em ciclo não estimulado subsequente, após normalização da resposta ovariana.
Além, disso, fatores de risco para ocorrência da síndrome de hiperestímulo ovariano devem ser avaliados antes do início do tratamento, optando-se por protocolos de estimulação mais suaves (uso de um protocolo com antagonista e desencadeamento da maturação folicular final com agonista do GnRH). Assim, deve-se investir na prevenção da SHO e personalização dos protocolos de estimulação ovariana.
Outro fator consideravelmente importante que deve ser levado em consideração é o risco de gravidez múltipla. Apesar de muitas pessoas até gostarem muito da ideia, esse tipo de gestação oferece mais riscos antes e depois do parto, como bebês com peso abaixo do normal, prematuros, e requer alguns cuidados especiais.
Fator Emocional na FIV
O diagnóstico de infertilidade pode causar sofrimento a alguns casais, com possibilidade de surgirem situações de estresse, ansiedade e dificuldade de falar o que sente. É importante para a saúde dos pacientes e para o sucesso do tratamento que este seja humanizado e que o casal se sinta acolhido. Podemos ressaltar algumas medidas que ajudam em todo o processo, como por exemplo:
- A explicação antecipada pelo médico de cada fase ajuda a diminuir ansiedade, buscando tornar o desconhecido mais conhecido;
- As informações devem ser prestadas pelo médico de forma compreensível à paciente, tirando todas as suas dúvidas;
- A inclusão do parceiro em todas as etapas do processo é muito importante;
- Esclarecimentos médicos a respeito das possibilidades e limitações do tratamento;
- Orientação de que mais de uma tentativa pode fazer parte deste processo até a chegada do filho;
- Em determinadas situações é importante que o médico diga à paciente que é “normal” sentir um pouco de ansiedade, uma vez que as mesmas não devem se culpar por estarem ansiosas;
- Pacientes com muita ansiedade, prejudicando a qualidade de vida, como por exemplo, que deixam de trabalhar, não saem de casa, tem insônia, angústia constante, devem ser encaminhados a um psicólogo.
Assim, o acompanhamento do psicólogo é feito em conjunto com os demais profissionais, possibilitando um tratamento mais personalizado e acolhedor, que cuide de todas as necessidades do casal.
Dúvidas frequentes
Algumas perguntas frequentes sobre FIV que não foram respondidas ao longo do artigo são:
1. É possível escolher o sexo do bebê?
As técnicas de reprodução assistida não podem ser aplicadas com a intenção de selecionar o sexo ou qualquer outra característica biológica do futuro filho, exceto para evitar doenças no possível descendente. Logo, escolher o sexo do bebê só é permitido em casos de doenças genéticas ligadas ao sexo, assim nesses casos, o casal receberá toda a orientação necessária pelo especialista que o acompanha.
2. Quantos embriões podem ser transferidos para o útero a cada ciclo?
Quanto ao número de embriões a serem transferidos, o Conselho Regional de Medicina faz as seguintes determinações de acordo com a idade:
- Mulheres até 35 anos: até 2 embriões;
- Mulheres entre 36 e 39 anos: até 3 embriões;
- Mulheres com 40 anos ou mais: até 4 embriões;
- Nas situações de doação de oócitos e embriões, considera-se a idade da doadora no momento da coleta dos oócitos. Como a idade limite da doadora é de 35 anos, nesses casos pode ser transferidos até 2 embriões.
3. Realizar FIV/ICSI aumenta o risco de gestação múltipla, ou seja, gêmeos (2 bebês ou mais)?
Com a evolução das técnicas de reprodução assistida (TRA) e a melhora dos resultados de gravidez, há uma tendência de se transferir número cada vez menor de embriões para o útero, levando à uma diminuição das taxas de gravidez múltipla. Entretanto, ainda são maiores do que na gravidez espontânea.
Estudos mostram que a taxa de gestação múltipla na América do Sul após TRA caiu para cerca de 20,7%.
4. O que é ICSI (Injeção intracitoplasmática de espermatozoide)?
A ICSI é uma técnica de fertilização, em que um único espermatozoide é depositado diretamente dentro do óvulo. Empregada inicialmente em casos de fator masculino grave, é hoje amplamente utilizada.
Confira aqui neste link o artigo completo sobre ICSI.
Se você está tendo dificuldade para engravidar, deseja uma avaliação ou ficou com alguma dúvida, entre em contato conosco em nossa página de contato. Nosso objetivo é ajudar você em todas as etapas no procedimento de reprodução assistida para realizar o seu desejo da maternidade/paternidade.